Doenças

ASMA:
A asma acomete cerca de 10 a15% da população mundial. É uma doença crônica inflamatória. Geralmente surge na infância, mas pode aparecer em qualquer época da vida. O seu prognóstico depende de muitos fatores: genética, meio ambiente, poluição, ácaros da poeira de casa, mofos, pólens, epitélio de animais domésticos, baratas, aspirina, exercícios, mudanças climáticas, infecções virais do trato respiratório superior (resfriados), estresse, exposição ao ar frio e aos irritantes aéreos (fumaça, perfumes, odores fortes, tintas, plásticos, madeiras, etc), riso e choro intensos, bem como em certos casos alimentos. Necessita de avaliação alergológica, pois cerca de 74% dos asmáticos são alérgicos. Deve ser estabelecido um plano diagnóstico e terapêutico que conduza a uma melhora significativa na qualidade de vida do portador de asma. A asma pode estar associada à rinite, constituindo a chamada doença das vias aéreas unidas em cerca 90% dos casos. O paciente pode ser muito bem controlado com os modernos medicamentos, muitas vezes em associação com controle ambiental e imunoterapia (“vacinas anti-alérgicas”), sempre individualizados. Quando bem conduzida a asma apresenta bom prognóstico: ausência de sintomas e de crises asmáticas, bom rendimento escolar e profissional, vida social e familiar normais, prática adequada de esportes e de exercícios físicos, e uma boa noite de sono sem a necessidade de “bombinhas” com broncodilatadores. Os tratamentos inovadores e combinações terapêuticas na asma são uma realidade. Atualmente, dispomos de imunobiológicos para o tratamento da asma grave não controlada.

RINITE:
A rinite acomete cerca de 30% da população mundial, principalmente em áreas mais desenvolvidas e com melhor padrão de higiene. É um fator de risco para a asma já que 1/3 dos pacientes com rinite tem asma associada. Pode também estar presente nestes indivíduos, principalmente em bebês e crianças, a dermatite atópica, comumente chamada de eczema. A rinite é alérgica em 3/4 dos casos e pode ter os seguintes fatores precipitantes e/ou agravantes: genética, meio ambiente, poluição, ácaros da poeira de casa, mofos, pólens, epitélio de animais domésticos, baratas, aspirina, mudanças climáticas, infecções virais do trato respiratório superior (resfriados), estresse, exposição ao ar frio e aos irritantes aéreos (fumaça, perfumes, odores fortes, tintas, plásticos, madeiras, etc..), bem como em certos casos alimentos. Pode ser sazonal ou perenial. Existe também a rinite gravídica que melhora após o parto. O hipotireoidismo e os hormônios estrogênio e progesterona (contraceptivos orais) podem também causar congestão nasal. Há modernos tratamentos orais e tópicos para a rinite, e que são freqüentemente acoplados ao controle ambiental e à imunoterapia anti-alérgica específica (“vacinas anti-alérgicas”). Obtém-se uma ótima qualidade de vida quando o paciente rinítico está bem controlado: alegria, bom sono, ótimo rendimento escolar e profissional, paladar e olfato normais, e um melhor controle da asma quando presente. Algumas mulheres relatam piora da rinite no período menstrual. Pólipos nasais (formações inflamatórias da mucosa) podem explicar a falta ou diminuição de olfato. Pode estar associada à sinusite crônica (rinossinusite).

SINUSITE:
A sinusite geralmente está associada à rinite, alérgica ou não. Pode inicialmente ser precipitada por uma infecção viral do trato respiratório superior (resfriado comum). Posteriormente, esta pode complicar-se com uma infecção bacteriana aguda secundária dos seios da face, a qual pode então se transformar em uma sinusite crônica, ou mesmo raramente evoluir com uma infecção crônica por fungos (ex: aspergilus). A tomografia computadorizada dos seios da face e a avaliação alergológica da rinite associada são freqüentemente necessárias. Pode haver polipose nasal e intolerância à aspirina e aos antiinflamatórios não-esteroidais. Em casos mais graves recomenda-se a cirurgia endoscópica nasal, com bons resultados terapêuticos. A otite média, infecciosa ou secretora, pode estar presente, principalmente em crianças. Pacientes com deficiência de anticorpos (imunoglobulinas) podem ter sinusites de repetição, muitas vezes acompanhadas de pneumonias. Há vacinação anti-pneumocócica eficaz. Frequentemente a sinusite pode se manifestar através de uma intensa dor de dentes e mau hálito.

CONJUNTIVITE:
As conjuntivites são decorrentes de um processo inflamatório, alérgico ou não. A conjuntivite alérgica está freqüentemente associada à rinite alérgica, constituindo-se, portanto, um quadro de rinoconjuntivite alérgica. Há o reflexo naso-ocular. Estes processos imunoinflamatórios requerem uma avaliação alergológica, já que os inalantes (aeroalérgenos) podem contribuir como fatores precipitantes e agravantes da conjuntivite. A parceria oftalmológica é sempre produtiva. Modernos tratamentos com colírios (anti-histamínicos, corticóides e anti-inflamatórios), medicações antialérgicas orais, e imunoterapia específica conduzem a muito bons resultados clínicos. Os olhos secos devem ser tratados com colírios de lágrimas artificiais. Ocasionalmente, colírios de ciclosporina podem ser necessários.

URTICÁRIA E ANGIOEDEMA:
A urticária e o angioedema podem ser agudos ou crônicos. Ambos estão presentes em 40% dos casos. Existe uma modalidade hereditária de angioedema por deficiência quantitativa e/ou funcional de um inibidor enzimático. Na maioria das vezes uma causa exata da urticária crônica não consegue ser estabelecida, sendo ela então denominada espontânea / idiopática. O estresse emocional e a intolerância à aspirina e aos antiinflamatórios tanto podem causar quanto agravar os quadros de urticária e angioedema. O aumento dos mastócitos (mastocitose sistêmica e urticária pigmentosa) pode também ser avaliado pela dosagem da triptase no soro destes pacientes. Há urticárias induzidas associadas a estímulos físicos externos: calor, frio, pressão, vibração, luz solar, exposição aquagênica, e relacionadas à prática de esportes e exercícios físicos / aeróbicos. As alergias alimentar e medicamentosa deverão ser pesquisadas pelo alergista. O prognóstico da urticária/angioedema costuma ser bom a longo prazo. Há tratamentos modernos bastante eficazes, como o imunobiológico Omalizumabe. Bebidas alcóolicas e ciclos menstruais podem agravar a urticária e o angioedema.

ANAFILAXIA:
A anafilaxia é a maior emergência na prática alergológica. É potencialmente fatal, necessitando de uma ação rápida, eficiente e agressiva, onde a adrenalina/epinefrina intramuscular, na face ântero-lateral da coxa, é sempre o primeiro tratamento a ser administrado, independente da idade do paciente ou de qualquer outra condição clínica associada. O perigo está na insuficiência respiratória (edema de glote) e na queda da pressão arterial, esta associada a tonteiras, desmaios e isquemias cardíaca e cerebral, bem como no choque circulatório. Anti-histamínicos e corticóides são depois também administrados. Asma, rinite, ruborização, prurido intenso, urticária/angioedema, diarréia, cólicas abdominais, costumam igualmente estar presentes nestes quadros dramáticos. As causas de anafilaxia incluem: alimentos, medicamentos e anestesias, picadas de insetos (abelhas, vespas, marimbondos e formiga de fogo), látex, sêmen, contrastes radiológicos iodados, opiáceos, imunobiológicos, exercícios, agentes físicos externos como, por exemplo, o calor e o frio intensos e a luz solar, e em cerca de 15% dos casos sem uma etiologia conhecida (anafilaxia idiopática). A exposição à luz solar, levando a uma maior produção de vitamina D, confere proteção na prevalência da anafilaxia. A adrenalina auto-injetora e os alertas médicos deverão ser sempre prescritos pelo alergista, que também estabelecerá um plano de ação operacional imediato para estes indivíduos acometidos. Foi, também, descrita a anafilaxia oral acarina pela ingestão de alimentos preparados com farinhas contaminadas por ácaros (“anafilaxia por panqueca”). A anafilaxia idiopática pode, geralmente, ser controlada e prevenida com os corticóides orais.

DERMATITE ATÓPICA:
A dermatite atópica, comumente conhecida como eczema, está freqüentemente associada à alergia respiratória (asma e/ou rinite) e ocasionalmente, à alergia alimentar. É muito mais freqüente em crianças, e também apresenta predisposição genética. Melhora significativamente com o passar do tempo até a puberdade, sendo rara na adolescência e na vida adulta. Há sempre um impacto familiar, escolar e social causados pela doença, e aspectos emocionais presentes precisam ser abordados, melhorando assim a qualidade de vida destes pacientes. O tratamento da pele seca e das infecções cutâneas existentes (estafilococos, por exemplo) deve ser acoplado aos anti-histamínicos orais, corticóides e imunomoduladores sob a modalidade de pomadas e cremes. Manchas brancas na pele (pitiríase alba) podem estar presentes. Infecções pelo vírus herpes podem complicar o quadro dermatológico. O prognóstico a longo prazo costuma ser muito bom. Estuda-se o possível benefício dos probióticos orais. Atualmente, o imunobiológico Dupilumabe é eficaz nos casos graves de dermatite atópica.

DERMATITE DE CONTATO:
A dermatite de contato pode ser alérgica ou irritativa. A modalidade alérgica não tem cura, e esta sensibilização perdura por toda a vida. Há testes alérgicos de contato, com leitura tardia (72-96 horas), muito precisos e padronizados, identificando assim as substâncias químicas envolvidas neste tipo de alergia cutânea: cosméticos, esmaltes, medicamentos, borracha, colas, tinturas, etc. Uma vez diagnosticada a sensibilização alérgica é feita uma recomendação precisa para se prevenir re-exposições futuras causadoras desta dermatite alérgica de contato. No caso da dermatite irritativa de contato, o prognóstico é mais favorável, havendo também prevenção adequada quanto ao reaparecimento futuro desta dermatite não-alérgica. Não há predisposição genética para os dois tipos descritos de dermatite de contato.

ALERGIA ALIMENTAR:
A alergia alimentar é mais prevalente na infância (cerca de 8%), mas pode aparecer em qualquer faixa etária da vida adulta. Está associada aos hábitos alimentares regionais, e incide mais entre os indivíduos portadores de asma e rinite alérgicas e também nos pacientes com o quadro de dermatite atópica. A intolerância alimentar pode ser confundida com a alergia alimentar, e os testes alérgicos podem ajudar nesta diferenciação. Os principais alimentos causadores de alergia são: leite e derivados (infância), clara de ovo (infância), amendoim, nozes, trigo, soja, frutos do mar (adultos), e em certos países os peixes (Escandinávia, Japão, Espanha, entre outros). Pode haver reação alérgica cruzada entre certos pólens e frutas (síndrome da alergia oral), e entre o látex e certos alimentos (mamão, kiwi, figo, maracujá, mandioca, banana, abacate, abacaxi, nozes, etc.). Pode ocorrer anafilaxia induzida por exercícios com dependência alimentar. Não há benefício na restrição alimentar da grávida alérgica como medida preventiva para futuras alergias no bebê. Há receitas alimentares especiais para os pacientes com estas alergias, devendo-se sempre levar em consideração os outros alimentos pertencentes à mesma família alergênica (reação cruzada). É imprescidível que os indivíduos com alergia alimentar sejam muito bem informados e que estejam atentos ao que ingerirem, e que também portem sempre a adrenalina (epinefrina) auto-injetora, a ser utilizada em caso de anafilaxia. A hidratação cutânea do bebê, de família alérgica, pode prevenir futuras alergias, inclusive alimentar. A introdução de alimentos, incluindo o amendoim, a partir dos 4 meses de idade, pode prevenir alergias alimentares futuras. Em casos de bebês alérgicos a alimentos (leite de vaca, ovo, etc) a mãe deverá abster-se deles durante o período de aleitamento. Imunoterapia e dessensibilização na alergia alimentar estão em curso.

ALERGIA MEDICAMENTOSA:
Todos os medicamentos podem potencialmente causar intolerância ou alergia, e esta pode envolver vários mecanismos imunológicos, acometendo então a pele (erupções, prurido, urticária e angioedema), o trato respiratório (edema de glote, asma e rinite), o trato gastrointestinal (vomitos, cólicas abdominais e diarréia), o aparelho circulatório (hipotensão arterial, arritmias e choque circulatório), etc. A alergia medicamentosa pode ser potencialmente fatal e, portanto, requer frequentemente a prescrição de adrenalina/epinefrina auto-injetora e também de um alerta médico identificador. É importante a avaliação alergológica detalhada, que além da história clínica e do exame físico pode incluir também testes alérgicos cutâneos e/ou laboratoriais confirmatórios. Não há testes padronizados para vários medicamentos, porém, existem testes bastante precisos para alergia a penicilinas, anestésicos locais e bloqueadores neuromusculares. Em condições especiais podem ser empregados métodos escalonados de dessensibilização medicamentosa. É fundamental o conhecimento da farmacologia, para que o alergista oriente precisamente quais os fármacos a serem evitados. Não há predisposição genética. O alergista poderá auxiliar o paciente, portador de hipersensibilidade a medicamentos, na utilização de alternativas seguras.

ALERGIA A PICADAS DE INSETOS:
Os insetos da classe Himenóptera (abelhas, vespas, marimbondos, e formigas de fogo ou “lava-pé”), são os principais causadores de alergias potencialmente graves, pois podem provocar o edema de glote e a hipotensão arterial (anafilaxia). Os mosquitos podem induzir reações cutâneas muito desconfortáveis, como por exemplo, o estrófulo. Os carrapatos, escorpiões e aranhas podem raramente estar implicados em reações imunoalérgicas. Há testes alérgicos cutâneos e laboratoriais muito precisos para a identificação da alergia aos venenos dos insetos Himenóptera. As reações alérgicas podem ser locais ou sistêmicas, necessitando da prescrição de adrenalina/epinefrina auto-injetora sempre que existir o potencial anafilático. Um plano operacional emergencial deve ser oferecido pelo alergista para estes pacientes, tranqüilizando-os na eventualidade da ocorrência destas reações. Os pacientes acometidos devem evitar utilizar perfumes e vestir roupas coloridas quando expostos ao ar livre, para não serem confundidos com flores por estes insetos, devendo igualmente ficarem longe de restos alimentares e de refrigerantes em piqueniques. Recomenda-se o uso de calças e blusas de manga comprida para evitar uma maior exposição a picadas e ferroadas. A imunoterapia (“vacinas anti-alérgicas”) para os venenos destes insetos apresenta resultados imunoprotetores bastante benéficos. Os apicultores, ao serem picados por abelhas, podem responder com anafilaxia ou com uma proteção pela própria natureza do seu trabalho.


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